I
Costuro no ventre do tempo,
sob a forma de palavras,
o testemunho de como minha voz
adentrou no ouvido
da alteridade.
II
Gesto palavras que são afetos.
Palavras do Outro,
que me foram ofertadas
da leitura que fizeram
de mim.
III
Cada anotação que faço
é uma ultrassonografia do poema
que ainda vai nascer.
Cada afeto é uma ponte
que alimenta vindouros versos.
IV
Há fetos de afeto
em cada palavra gestada,
em cada ponte criada.
No solo fecundo e arcaico
do que me ultrapassa.
V
São olhos alheios
que desenham o esboço
de meu rosto.
Palavras que me antecedem
afluem para o que escrevo.
VI
As lembranças do Outro
fundam minha memória.
Com o afeto que recebo
é que aprendo
a sentir.
VII
Enterro palavras
nas entranhas daquilo
que tenho sido:
um corpo impermanente,
uma máquina desejante.
VIII
A sensibilidade da carne
é o que abre a vida
ao mundo das possibilidades.
Ela permite ao indivíduo
inventar-se no fora de si.
IX
Naquilo que sinto,
eu me torno múltiplo.
E assim, em nove movimentos,
estou prestes a parir
o poema recém-nascido.
Poema escrito durante a Oficina de Escrita Criativa “Entre Vodus e Ciborgues: a escrita como corpo e potência“, ministrada por Geruza Zelnys e Eduardo Guimarães.
Super me emociono com poemas. Aprecio muito quem os escrevem, um dom mesmo de se admirar. À mim veio apenas o dom de ler mesmo, porque não sei escrever muito bem
Excelentes metáforas. MUITO obrigado por compartilhar. Em especial: “Costuro no ventre do tempo …” e “… ultrassonografia do poema que ainda vai nascer …”.
Sou completamente apaixonada por poemas, eles tem o dom de me transportar, conquistar e me fazer refletir. Gostei muito da sua escrita, é um poema que precisamos ler e reler para captar totalmente e amo isso, ler uma vez e na releitura descobrir ainda mais.
Um bom texto tem o dom de nos tocar ou refletir.. um bom poema nos faz ir mais além. Obrigada por compartilhar conosco.😉
Oi Teofilo! Fico sempre encantada com a sua escrita. Sempre me transmitem uma paz. Acredito que seja isso.
O que me chamou atenção foi a metáfora com a ultrassonografia. Realmente, um poema deve ser seu filho e imagino como o nascimento dele deve ser lindo!
Parabéns, beijos.
https://almde50tons.wordpress.com/
Que bonitinho, faz tanto tempo que não sei poema que até me atrapalhei um pouco na leitura, mas seu poema é muito bonito e fofo
Olá Teofilo,
Seus poemas não são nada menos do que espetaculares, você consegue usar o jogo de palavras muito bem e nos envolver em cada linha. Vamos construindo uma história e entrando dentro dela. Parabéns pelo excelente trabalho, escrever um poema (ou qualquer outra coisa) é realmente como ter um filho chegando ao mundo.
Beijos!
Olá, achei muito gostoso ler seu poema! Eu sempre falo que não sei ler poemas pois não consigo sentir tudo que ele proporciona mas acho uma forma linda de escrita! Obrigada por ter escrito este e compartilhado conosco ❤
Beijos,
Conta-se um Livro
Muito bom esse poema! Bem reflexivo, parabéns!
Que poema bonito gostei muito desta parte em que se coloca como uma “gestação” e consegui visualizar através da ultra sonografia. Muito bom poder ler esta autoria