Entre piedras, cactus, abrazos y algodones
viene de tus pupilas pozo de agua infinito
hacia el plexo de mis adentros
donde duela nunca dudes, camino certo
(Perotá Chingó – Certo)
I
Doar a voz ao público.
Inundá-la de notas,
acordes quase abraços
e ritmos múltiplos.
Acender fagulhas
em todas as almas
apenas com o som.
II
Reverberam harmonias
que habitam essa forma
aquosa de música.
Um aguaceiro de lágrimas
apascenta o peito.
E assim ouvimos mergulhados
em lagunas amnióticas.
III
Milênios há
sob o chão dessas vozes donde
emanam sacras alegrias.
As sacerdotisas do som
evocam antepassados
e projetam
os olhos do amanhã.
IV
Fazer da voz a ferramenta.
Para avivar o fogo
não falta o ar,
assim como a água é vital
para fecundar a terra.
Isso é o que diz a vida,
esse infinito espelhado em mandalas.
V
Solares canções pequenas
reverdecem o dentro
de cada manhã.
E assim cantamos também,
dando graças
e pedindo à vida:
empresta-me teu sol!
VI
Lavra louca
trespassada por águas
que espelham o profundo –
essa é a matéria
que engendra nossa voz.
Assim se pode ouvi-la desde
as raízes de si.
VII
Silêncios também soam
com eloquência.
Fazem das gentes
ilhas num mar de encantos.
E se anuncia esse mistério
sob a forma úmida de um canto
desde a primeira chacarera.