Extintas memórias de infância –
de tardes no museu –
ardem no fogo dos séculos.
Restam apenas jardins
ladeando cinzas.
E um rescaldo de vozes.
O tempo e as chamas
são implacáveis.
Naqueles salões, uma múmia
ou um fóssil humano
me revelou –
creio que antes mesmo
que eu conhecer a escrita –
como é funda a fria face
da morte.
Afora este horror primevo,
esqueletos de dinossauros e baleias
alimentavam a perplexidade
da curiosa mente infantil.
Via naquele meteoro,
que sobreviveu ao fogo do descaso
dos tempos presentes,
o que causou,
há sessenta e cinco milhões de anos,
a grande extinção do cretáceo-paleogeno.
A grande extinção do museu,
com duzentos anos
dois meses
e vinte e sete dias de vida,
é agora.
São Paulo, 3 de setembro de 2018