Extintas memórias de infância –
de tardes no museu –
ardem no fogo dos séculos.
Restam apenas jardins
ladeando cinzas.
E um rescaldo de vozes.
O tempo e as chamas
são implacáveis.
Naqueles salões, uma múmia
ou um fóssil humano
me revelou –
creio que antes mesmo
que eu conhecer a escrita –
como é funda a fria face
da morte.
Afora este horror primevo,
esqueletos de dinossauros e baleias
alimentavam a perplexidade
da curiosa mente infantil.
Via naquele meteoro,
que sobreviveu ao fogo do descaso
dos tempos presentes,
o mesmo que causou,
há sessenta e cinco milhões de anos,
a grande extinção do cretáceo-paleogeno.
A grande extinção do museu,
com duzentos anos
dois meses
e vinte e sete dias de vida,
é agora.
São Paulo, 3 de setembro de 2018
Emocionante, é triste lembrar que a destruição de parte de história foi devida ao descaso humano
É muito complicado,fico muito triste por isso ter acontecido!
Oi, tudo bem ?
Parabéns, está uma leitura linda e tocante, nos lembrando de um acontecimento tão atual e de tantas histórias perdidas.
Muito triste o que aconteceu , uma perda insubstituível , é lamentável mesmo . Muito bonita a sua homenagem ao museu .
Um poema lindo, uma imagem triste.
Fiquei com o coração tão apertado quando vi a notícia e vi as imagens do fogo. Toda uma história sendo ali dentro… Primeiro o museu da língua, agora esse… Lamentável!
bela homenagem você fez, a imagem da primeira estrofe ficou bem linda também.
Abraço,
Diego França ~Blog Vida & Letras
http://www.vidaeletras.com.br
Lamentável o que aconteceu com o museu ;/
Tantas historias perdida…simplesmente Lamentável!
Muito bonita a sua homenagem!
Oi Téofilo!!
É lindo ler suas palavras, mas é tão triste lamentarmos por essa tragédia. Eu me lembro das vezes que visitei o museu, de como achei cada coisa lá dentro incrível e ainda mais por saber que esse fogo levou parte da nossa história. Uma história, que até a noite em que o museu pegou fogo, parte da população não tinham nenhum conhecimento. Muito triste!!
Bjs
https://almde50tons.wordpress.com/
Cara, foi entristecedor ver o patrimônio histórico, cultural e artístico sendo perdido desta forma. Pena estar longe do Rio e nunca ter tido a oportunidade de conhecê-lo.
Theozinho, seu poema dialoga com os meus; o primeiro feito ainda sob o impacto e a incapacidade de dizer a perplexidade, naquilo em que a voz é apenas rescaldo. O segundo, escrito alguns dias depois, à sombra de Luzia e do meteoro. Deixo os dois aqui para ecoarem esse lamento.
2 de Setembro
Emudeço toda vez
que acontece algo
dessa magnitude
e lambe feito o fogo
minha língua
se cada homem é um museu
com seu tempo alinhavado
nas próprias entranhas
o Museu Nacional
com seus 200 anos
não nos aponta
qualquer esperança
no futuro
o aparato virtual
que jaz sobre
ossadas
sobre todo o lixo
que já nem se esconde
que nem chega a se projetar
o hoje se transforma
em cinzas
emudeço porque calculo
no coro que formamos
o que não virá
apagado da memória que se aparta
lambido pelo fogo que, se
pudesse, chorava
(num repente, minha voz é rescaldo).
—
Luzia
Deus está deitado
de costas para o crime
para tudo que criou
espécie de inércia
primeira ou museu
a estocada final
som estridente
de coisas nascendo
e estrelas morrendo
som que não contém
razão de ser
se não distender
sua massa gravitacional
pedra jogada no rio
do vazio, bastasse
uma antena de maior
amplitude
para entender as engrenagens
cifradas do crime perfeito
um lamento guardado
no fóssil mais antigo
da América
qualquer substância
sarcófago
um campo de invertebrados
diagrama de línguas extintas
um meteorito que luzia
uma mulher de treze mil anos
ardendo
à sua sorte.
Theozinho, seu poema dialoga com os meus, o primeiro feito ainda sob o impacto e a incapacidade de dizer essa perplexidade, naquilo em que a voz é apenas rescaldo. O segundo, à sombra de Luzia e do meteoro. Deixo os dois aqui para ecoarem esse lamento.
Emudeço toda vez
que acontece algo
dessa magnitude
e lambe feito o fogo
minha língua
se cada homem é um museu
com seu tempo alinhavado
nas próprias entranhas
o Museu Nacional
com seus 200 anos
não nos aponta
qualquer esperança
no futuro
o aparato virtual
que jaz sobre
ossadas
sobre todo o lixo
que já nem se esconde
que nem chega a se projetar
o hoje se transforma
em cinzas
emudeço porque calculo
no coro que formamos
o que não virá
apagado da memória que se aparta
lambido pelo fogo que, se
pudesse, chorava
(num repente, minha voz é rescaldo).
—
Luzia
Deus está deitado
de costas para o crime
para tudo que criou
espécie de inércia
primeira ou museu
a estocada final
som estridente
de coisas nascendo
e estrelas morrendo
som que não contém
razão de ser
se não distender
sua massa gravitacional
pedra jogada no rio
do vazio, bastasse
uma antena de maior
amplitude
para entender as engrenagens
cifradas do crime perfeito
um lamento guardado
no fóssil mais antigo
da América
qualquer substância
sarcófago
um campo de invertebrados
diagrama de línguas extintas
um meteorito que luzia
uma mulher de treze mil anos
ardendo
à sua sorte.
Fofinha, no dia seguinte ao incêndio eu fiquei boa parte do dia pensando que queria escrever algo, mas não tinha conseguido parar para escrever. Somente depois que li esses dois poemas seus é que escrevi esse poema. Até por isso é que meu poema dialoga tanto com os seus… ❤
Achei que tinha te falado isso por telefone. Mas acho que só pensei, e acabou que o rumo da prosa se desviou e não falei isso. 😉
Olá! Já perdi a conta de quantas vezes visitei o museu, sempre que eu ia tinha alguma sala fechada. Quando vi as notícias do incêndio fiquei incrédula, uma vontade de chorar por lembrar de tudo que conheci lá e foi perdido.
Lindo demais o seu texto.
Lindo poema!! Um acontecimento muito triste que até hoje me faz chorar.
QUE TEXTO! É a coisa mais triste que nos aconteceu nos últimos anos, na verdade, muita coisa triste tem acontecido no nosso país, e o que aconteceu com o Museu, foi uma das coisas que pudemos ver. Enfim 😦
Oi Teófilo, tudo bem?
Que texto impactante. Este acontecimento realmente conseguiu mexer com todos os brasileiros, pois sua intensidade e forma que aconteceu foi trágico, perdemos um pedaço da nossa história naquele incêndio. Suas palavras foram precisas e intensas, me pegaram de jeito. Parabéns pelo trabalho!
Beijos!
Ai Teófilo, esse texto me trouxe novas lágrimas aos olhos. Voltei aquele domingo, quando vi a notícia pelo twitter e já entrei em estado de alerta, achando que daria tempo de apagar antes de maiores estragos. Que triste engano. Que dor de engano. É muito triste ver um lugar que tanto fui durante anos, virar cinzas. Amei o texto, lindo, ainda que numa situação triste. Parabéns, beijos
https://almde50tons.wordpress.com/
Belas palavras, descreveu bem o retrato e o horror vivido pela História do nosso país. Infelizmente, um descaso de autoridades. Como vc citou: Via naquele meteoro,
que sobreviveu ao fogo do descaso
dos tempos presentes,
Somente o meteoro sobreviveu ao descaso desses horríveis tempos q vivemos.
Abraço!
Triste… Visitei dezenas de vezes e quase estagiei lá. Uma perda lastimável. Seu poema descreve a sensação. Parabéns